Na manhã de uma terça-feira, há dez anos, Kristin Kramer, então com 44 anos, teve dificuldade para falar e percebeu que sua mão direita não respondia. Mesmo assim, ela voltou para a cama e ignorou os sintomas, acreditando que o mal-estar havia passado quando acordou novamente uma hora depois. O que parecia um episódio isolado era, na verdade, um ataque isquêmico transitório (AIT), também conhecido como mini-AVC, uma condição que afeta cerca de 240 mil norte-americanos por ano e cuja gravidade costuma ser subestimada.
Por serem breves e muitas vezes sem sequelas imediatas, os sintomas de um AIT são frequentemente ignorados pelos pacientes, o que aumenta exponencialmente o risco de um AVC mais grave nos dias ou semanas seguintes. Kramer, por exemplo, seguiu trabalhando normalmente, mesmo com episódios de formigamento e confusão verbal, até que precisou ser levada ao pronto-socorro por um parente. Foi só então que uma ressonância confirmou que ela havia sofrido um miniderrame.
Declínio cognitivo
Estudos recentes reforçam que um AIT pode ter consequências duradouras. Segundo uma pesquisa da Universidade do Alabama, publicada na revista científica JAMA Neurology, pacientes que sofreram esse tipo de evento neurológico apresentaram, ao longo de cinco anos, declínio cognitivo semelhante ao de quem teve um AVC completo. A descoberta alerta para a importância de buscar atendimento médico imediato ao menor sinal de alteração neurológica, mesmo que temporária.
Hoje, com 54 anos, Kristin afirma estar bem, mas carrega a lição de que qualquer episódio suspeito deve ser tratado com urgência. “Se os sintomas voltarem, sei que não posso ignorar. Preciso procurar ajuda médica imediatamente”, afirma. O relato foi publicado originalmente pelo The New York Times, em reportagem de Paula Span. Casos como o dela reforçam que o desconhecimento e a minimização dos sinais de um mini-AVC ainda são barreiras para diagnósticos e tratamentos precoces que poderiam evitar sequelas mais graves.