Camilo Santana provocou controvérsia ao afirmar que “a primeira reclamação do professor não é sobre salário, mas falta de reconhecimento”. A declaração ocorre em um momento em que a categoria reivindica melhores condições de trabalho e o cumprimento do piso nacional, atualmente em R$ 4.867, equivalente a três salários mínimos. Para Santana, o maior desafio é devolver prestígio social ao magistério, que ainda é visto como “ocupação de segundo escalão”, apesar de ser, segundo ele, “a profissão mais importante da nação”.
O chefe do MEC ressaltou em evento com empresários em São Paulo que sua gestão busca fortalecer a carreira docente com iniciativas como o “Enem dos Professores”, que pretende avaliar recém-formados em licenciatura, e a criação de uma carteira nacional da categoria. Ele garantiu a manutenção do piso do magistério, reajustado pelo crescimento do Fundeb e não pelo IPCA, anunciando aumento de 6,27% para 2025 e projeção de apenas 1% em 2026. Apesar da promessa, um terço das prefeituras ainda descumpre a regra, alegando falta de recursos.
Valorização simbólica e material
Além da pauta salarial, Santana destacou programas voltados à valorização simbólica e material da categoria. Entre eles, o TôComProf, que prevê descontos e vantagens para professores em parceria com a iniciativa privada, e o Pé de Meia do professorado, uma versão adaptada do benefício estudantil para incentivar jovens que ingressam na licenciatura com apoio financeiro. O objetivo é atrair novos talentos e frear o esvaziamento das licenciaturas, que registram queda preocupante na procura.
Os empresários presentes, como Marcelo Bueno, cofundador da Ânima Educação, apoiaram as medidas e reconheceram a urgência em resgatar o prestígio da profissão. “Quem dos nossos filhos ou netos aqui quer ser professor? Por quê? Nós temos que encarar isso de frente. O professor tem que ser herói, tem que ser referência”, declarou Bueno, em sintonia com o apelo do ministro.
Descumprimento do piso salarial
Mas a realidade fora dos gabinetes é menos otimista. Embora o MEC tenha assegurado aumento de 6,27% para 2025, cerca de um terço das prefeituras não consegue pagar sequer o piso atual. A defasagem de repasses do Fundeb pressiona municípios e transforma a lei em letra morta para milhares de docentes.
Nesse contexto, a fala de Santana gera resistência entre professores que veem no salário não apenas um número, mas a expressão concreta do reconhecimento tantas vezes prometido e raramente entregue. Sem remuneração digna e condições de trabalho adequadas, qualquer movimento de valorização corre o risco de se limitar a slogans bem-intencionados.
Em meio às promessas de prestígio e incentivos, a pergunta persiste: como falar em reconhecimento se o próprio Estado não garante o cumprimento do piso? Para a categoria, essa é a fronteira entre discurso político e valorização real.