No mês dedicado à prevenção ao suicídio (Setembro Amarelo), o Rio Grande do Sul continua a enfrentar uma tragédia silenciosa que se soma às catástrofes climáticas: uma onda crescente de agricultores que tiram a própria vida diante da falta de perspectivas. As auditorias conduzidas pelo ministro do Tribunal de Contas da União, Augusto Nardes, revelam que já são pelo menos 24 mortes registradas entre produtores rurais, em sua maioria homens jovens e pais de família que não conseguiram renegociar suas dívidas após sucessivas perdas nas lavouras.
Para ele, a situação é consequência direta da omissão do governo federal, que não estruturou políticas eficazes de prevenção e socorro. O levantamento mostra que, nos últimos anos, o Rio Grande do Sul sofreu três enchentes e duas secas severas, atingindo cerca de 200 mil famílias agricultoras. Sem renda, sem crédito e sem condições mínimas de trabalho, muitos produtores recorreram à medida extrema.
Clamor por trabalho
“O agricultor não pede esmola, ele pede condições de trabalhar. Mas a medida provisória não deu suporte adequado: um prazo de apenas um ano não cobre cinco anos de perdas seguidas”, lamentou Nardes, lembrando que a medida provisória do governo não solucionou a crise. O contraste entre o discurso de prevenção do Setembro Amarelo e a dura realidade do campo expõe um abismo que, segundo ele, poderia ser evitado com planejamento.
As auditorias também apontaram falhas graves na Defesa Civil, considerada desestruturada e incapaz de dar respostas imediatas. No Vale do Taquari e na Serra Gaúcha, cidades como Bento Gonçalves e Caxias do Sul registraram centenas de deslizamentos, com mortes e destruição. “O socorro imediato veio da população voluntária, enquanto as forças oficiais chegaram tardiamente”, destacou o ministro. Para ele, essa realidade confirma que o Brasil reage às tragédias em vez de preveni-las, deixando comunidades inteiras desamparadas.
Mudança de mentalidade
Em São Paulo, a auditoria sob sua relatoria constatou que a Enel não foi capaz de estruturar sistemas de prevenção, o que resultou em apagões que afetaram hospitais, hotéis e serviços essenciais. “Um país que paga quase metade do ano só em impostos não pode assistir sua população desamparada quando a tragédia chega”, afirmou.
O ministro defende a implantação de governança eficaz, com foco em avaliação de riscos e políticas preventivas, como único caminho para evitar novas perdas humanas e econômicas, e sobre privatizações, disse ser uma questão a ser muito bem avaliada pelos períodos de concessão.
Para Augusto Nardes, o debate não se resume apenas a falhas pontuais. A questão é estrutural e exige mudança de mentalidade: “O Brasil precisa parar de punir depois da tragédia e começar a prevenir. É isso que vai garantir dignidade ao cidadão que sustenta o Estado com o suor do seu trabalho”.