Os dados que chegaram ao plenário do Tribunal de Contas da União (TCU) soam como um alerta sobre o uso indevido de benefícios sociais. Levantamento do Banco Central, analisado pela Corte, revelou que famílias inscritas no Programa Bolsa Família movimentaram, apenas em janeiro de 2025, cerca de R$ 3,7 bilhões para empresas de apostas on-line. A investigação busca dimensionar o impacto das chamadas bets sobre o orçamento dessas famílias e sobre a integridade do programa social.

O relator do processo, ministro Jhonatan de Jesus, observou que os números indicam uma possível distorção de finalidade no uso das contas bancárias de beneficiários, mas ressaltou que nem todo valor transferido pode ser atribuído diretamente ao Bolsa Família. “Os recursos se misturam a outras fontes de renda, mas há indícios consistentes de uso irregular de CPFs de beneficiários em esquemas de fraude, lavagem de dinheiro ou ocultação de ilícitos”, afirmou o ministro. Segundo o relatório, 4,4% das famílias apostadoras concentraram 80% das transferências, e 21,9% tiveram contato com plataformas de apostas no mês analisado.

Fiscalização mira fraudes e uso indevido de identidades

Com base nas suspeitas, o TCU determinou que o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, em conjunto com o Banco Central, apresente em até 90 dias um plano de ação para detectar e coibir o uso ilícito de CPFs de beneficiários em transações suspeitas. O Tribunal também encaminhará as movimentações atípicas ao Coaf, à Receita Federal e ao Ministério Público Federal, abrindo caminho para uma investigação mais ampla sobre possíveis esquemas de lavagem de dinheiro e fraudes associadas ao universo das apostas on-line.