A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) impôs um controle mais rigoroso sobre a venda de medicamentos agonistas GLP-1, como Ozempic, Wegovy e Saxenda, amplamente utilizados para emagrecimento. A principal medida é a proibição da venda sem retenção de receita médica, visando combater o uso preocupante e crescente desses remédios fora das indicações clínicas e sem acompanhamento médico. Especialistas alertam que o uso inadequado não só coloca em risco a saúde dos usuários, mas também causa escassez para pacientes com diabetes tipo 2, que realmente necessitam desses tratamentos.
A partir de agora, a retenção da receita médica será obrigatória. Embora já classificados com tarja vermelha e exigindo receita, na prática, a fiscalização era falha e permitia a compra sem o documento. A decisão da Anvisa, que entrará em vigor 60 dias após a publicação no Diário Oficial da União, foi tomada após análises de farmacovigilância no sistema VigiMed. Esses dados revelaram um número significativamente maior de eventos adversos relacionados ao uso “off-label” no Brasil em comparação com outros países. Os diretores da agência ressaltaram a necessidade de proteger a população do uso indiscriminado dessas “canetas emagrecedoras”, originalmente desenvolvidas para diabetes.
A preocupação da Anvisa é endossada por dados alarmantes. Uma pesquisa recente da USP mostrou que 45% dos consumidores dessas “canetas” as adquiriram sem prescrição médica, e desses, 73% nunca tiveram orientação de um profissional de saúde. Mais da metade admitiu usar os medicamentos apenas para emagrecimento. Além disso, a Receita Federal tem registrado um aumento expressivo nas apreensões de medicamentos falsos e contrabandeados em aeroportos, com mais de 350 casos só este ano e um confisco de mais de 600 canetas no Aeroporto do Recife na última semana, o que evidencia um mercado informal perigoso e sem controle.
Médicos alertam para as consequências graves do uso indiscriminado. O nutrólogo Noé Alvarenga destaca que o uso sem acompanhamento leva à perda progressiva de eficácia, exigindo doses cada vez maiores, e pode resultar na perda irreversível de massa magra, com rápido reganho de peso após a suspensão. A endocrinologista Samara Rodrigues reforça que o “uso off-label” cresceu substancialmente, com um aumento de 41% nas prescrições para perda de peso em 2022. Ela adverte que muitos pacientes não estão cientes dos possíveis efeitos colaterais, como problemas gastrointestinais, pancreatite e questões na tireoide, reforçando a urgência da nova regulamentação da Anvisa para proteger a saúde dos brasileiros.