O silêncio que cobre as crateras deixadas pela Braskem em Maceió ganhou novo significado após o anúncio de um acordo entre a empresa e o governo de Alagoas. Um dia depois da divulgação do pacto, movimentos de atingidos afirmam ter sido deixados de fora das negociações e acusam o Estado de transformar uma tragédia humana e ambiental em simples ajuste financeiro. Os termos do acordo, que trata das indenizações pelos danos causados pelo afundamento do solo, ainda não foram divulgados oficialmente.
O Movimento Unificado das Vítimas da Braskem (MUVB) expressou “profunda indignação” diante do que chamou de “modelo excludente”. Para os atingidos, o governo repete o comportamento da Prefeitura de Maceió, que em 2023 firmou acordo de R$ 1,7 bilhão com a empresa sem a participação das vítimas. À época, o governador Paulo Dantas (MDB) classificou o ato como “ilegal e imoral” e chegou a acionar o Supremo Tribunal Federal, mas a ação foi rejeitada.
Acordo contra as vítimas
Segundo o MUVB, o novo entendimento ignora a dimensão real do desastre. “Um valor estimado em R$ 30 bilhões pelo próprio Estado é reduzido, de repente, a R$ 1,2 bilhão”, diz a nota, que denuncia a perda de transparência e o enfraquecimento do compromisso com quem perdeu casas, memórias e segurança. O movimento considera que o acordo foi feito “sem as vítimas e contra elas”, e que a reparação financeira não pode apagar o impacto humano e ambiental de um colapso urbano sem precedentes.
O Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM) também repudiou o pacto, ao considerar que ele atende a interesses políticos e eleitorais. A entidade contesta ainda o uso, pela Braskem, da expressão “evento geológico” para se referir ao caso. Para o MAM, trata-se “do maior crime socioambiental já registrado em área urbana no mundo”, resultado de décadas de mineração irresponsável que afundaram bairros inteiros e deixaram milhares de famílias à deriva.