No tabuleiro global da energia limpa, onde a China se estabeleceu como uma potência hegemônica, um novo e ambicioso jogador emerge do subcontinente indiano. A Índia, outrora um dos principais clientes de painéis solares e baterias para veículos elétricos fabricados na China, agora traça um curso audacioso: erguer uma robusta indústria nacional de equipamentos verdes, desafiando a liderança de seu vizinho e parceiro comercial.
Essa investida estratégica é impulsionada por uma confluência de fatores cruciais. Primeiramente, a nação de 1,4 bilhão de habitantes experimenta uma demanda energética crescente, sedenta por fontes limpas e sustentáveis para alimentar seu desenvolvimento. Em segundo lugar, Nova Déli vislumbra uma oportunidade de ouro ao capitalizar o desejo de outros países, notadamente os Estados Unidos, de diversificar suas cadeias de suprimentos energéticos e reduzir a dependência da produção chinesa.
Apesar do ímpeto e da visão, a Índia ainda trilha um caminho incipiente nesse mercado de alta tecnologia. Em 2024, sua produção de módulos solares atingiu cerca de 80 gigawatts, uma fração modesta se comparada aos mais de 10 vezes esse volume produzido pela China no mesmo período. A Índia também enfrenta o desafio de sua forte dependência do carvão, a mais poluente das fontes fósseis, que atualmente sustenta grande parte de sua matriz elétrica, com planos de expansão ainda em curso.
Série de incentivos estratégicos
Contudo, a determinação indiana em surfar a onda da transição energética global e em contrapor o domínio chinês nas tecnologias limpas é palpável. O governo implementou uma série de incentivos estratégicos para impulsionar a fabricação local de equipamentos essenciais. Subsídios atraentes para a produção doméstica de células solares e baterias, aliados a restrições à importação em grandes projetos de energia renovável, sinalizam uma política industrial agressiva e focada no autoabastecimento.
Um exemplo concreto dessa estratégia é a exigência de que as empresas utilizem painéis solares fabricados localmente para participar de contratos públicos destinados à instalação de energia solar em 27 milhões de residências até o final desta década. Essa medida não apenas estimula a indústria nacional, mas também garante um mercado consumidor cativo e de grande escala.
Imperativos sociais
Para Nova Déli, a construção de uma indústria de energia limpa robusta transcende a mera questão econômica. Há imperativos sociais, com a promessa de geração de empregos qualificados, e geopolíticos. A China, um rival estratégico com quem compartilha tensas disputas de fronteira, motiva a Índia a buscar a autonomia em sua cadeia de suprimentos energéticos, fortalecendo sua segurança e reduzindo vulnerabilidades. A batalha pela hegemonia na energia limpa está apenas começando, e a Índia se posiciona como um desafiador com ambições de longo alcance.