No Centro de Convenções Rebouças, em São Paulo, durante a recente edição do Conlicitantes 2025, o coordenador de Inclusão Social do Instituto Jô Clemente (IJC), Flávio Gonzalez, trouxe luz a um tema que permanece invisível no cotidiano das empresas brasileiras: a extrema escassez de pessoas com deficiência inseridas no mercado de trabalho.
Com um universo estimado de 45 milhões de trabalhadores, apenas 1% possui algum tipo de deficiência. “Estamos falando de 500 mil pessoas empregadas, quando a lei de cotas existe há 34 anos e o cumprimento pleno elevaria esse número a um milhão”, explicou Gonzalez, lembrando que a Nova Lei de Licitações busca fortalecer esse compromisso social.
Déficit histórico
A legislação estabelece que, para participar de licitações, as empresas devem comprovar o cumprimento da cota, transformando a inclusão em requisito estratégico para contratos públicos. Gonzalez lembra que o país possui cerca de 15 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência, incluindo 2,4 milhões de pessoas com autismo. “Não atingimos nem um milhão de trabalhadores. É um déficit histórico que exige avanço concreto e compromisso das empresas”, ressaltou, enfatizando que essas leis não protegem apenas pessoas com deficiência, mas garantem uma sociedade mais justa e socialmente sólida.
Alguns setores, segundo Gonzalez, apresentam desafios específicos, como vigilância e construção pesada, onde há alegações frequentes de dificuldade no cumprimento da cota. “Historicamente, algumas funções são vistas como incompatíveis, mas não podemos partir desse pressuposto. É necessário buscar soluções criativas e acreditar no potencial das pessoas”, afirmou. Ele defende que a diversidade seja incorporada à cultura empresarial e que a escolha de candidatos considere o perfil profissional antes da deficiência, evitando exclusões desnecessárias.
Capacitação e capacitismo
A capacitação é outro ponto crucial. O Instituto Jô Clemente adota a filosofia de “incluir para qualificar”, reconhecendo que pessoas com deficiência enfrentam barreiras desde a infância. Gonzalez reforça que o preconceito atitudinal, ou capacitismo, representa a maior barreira. “Rampa e software podem ser instalados, mas a barreira dentro de nós, o preconceito, é a mais difícil de superar. Precisamos desconstruir o capacitismo para realmente incluir”, destacou.
Gonzalez concluiu, lembrando que o caminho para a inclusão plena depende da mudança cultural dentro das empresas e do compromisso do poder público. Cumprir cotas não é apenas uma obrigação legal, mas um passo concreto para transformar o Brasil em uma sociedade que valoriza a diversidade e reconhece o potencial de todos os cidadãos