Obra inédita idealizada pelo artivista Mundano para o projeto Maré de Mudanças une arte e ativismo em defesa dos oceanos e dá recado claro: é preciso frear a poluição plástica e seus graves impactos
Inaugurada terça-feira (25) em Brasília, a instalação inédita “O Tsunami de Plástico” é uma obra imersiva capaz de transformar a percepção sobre a poluição nos mares e oceanos. Patrocinada pelo Instituto Lixo Zero e desenvolvida pelo Movimento Reinventando Futuros por meio do projeto Maré de Mudanças, esta obra pioneira foi criada em colaboração com o coletivo Flutua e Pimp My Carroça, com a participação essencial de catadoras e catadores de material reciclável e apoio da Oceana.
Visualmente impactante, a instalação retrata e educa sobre a alarmante presença de plástico nos oceanos, agora infiltrado no ar que respiramos, na água que bebemos e nos alimentos que consumimos. “O Tsunami de Plástico” estará aberto para visitação durante o 3º Congresso Internacional Cidades Lixo Zero, que acontece no Museu Nacional de Brasília, com entrada gratuita em duas sessões diárias até esta quinta-feira (27).
Cenografia ambientada no fundo do mar
“O Tsunami de Plástico” é uma onda inflável com cerca de 10 metros de altura (equivalente a um prédio de 3 andares) por 20 metros de largura, totalmente construída com plástico descartado. Com 605m² de plástico soldado, a instalação foi feita com mais de 1.100 sacolas plásticas e trata-se de uma releitura de “A Grande Onda de Kanagawa”, famosa xilogravura do artista japonês Katsushika Hokusai, de 1830.
A convite do Pimp My Carroça, catadoras e catadores de material reciclável, protagonistas do trabalho que evita que os plásticos cheguem no mar, foram contratados para coletar e higienizar os plásticos, além de produzir a modelagem do inflável. Dentro da instalação, o público terá contato com a cenografia ambientada no fundo do mar e seus preciosos corais, construída com resíduos plásticos, como tapetes de grama sintética, peças de E.V.A, garrafas PET e até vapers.
“Esta intervenção é provocativa para todos. Desde o consumidor, que deve rever seus hábitos, recusando drasticamente o consumo de plásticos de uso único, desde as indústrias poluidoras que geram essas embalagens tão pouco inteligentes, cheias de erros de design que são usados por pouquíssimos segundos, sendo elas o verdadeiro lixo nessa história toda.”, comenta Mundano.
“É um recado também para o Poder Público, para que avance na legislação contra o verdadeiro tsunami de plástico que não para de invadir a vida das pessoas. Ninguém aguenta mais tanto plástico nos nossos rios, mares, calçadas e até na nossa comida em forma de microplásticos. Basta de tanto plástico!”, completa o artista.
Esta 3a edição do Congresso Internacional terá como tema “Acordo Social – Um Caminho para Transformar Cidades” e reunirá lideranças mundiais para discutir o papel fundamental do engajamento comunitário na construção de cidades sustentáveis. Destaque da programação, a instalação terá duas sessões diárias abertas ao público. Com urgência para o debate sobre as mudanças climáticas provenientes dos plásticos nos oceanos, além do papel central dos catadores e cooperativas, entidades e organizações, o Movimento Reinventando Futuros organiza ainda painéis e rodas de conversas.
“Abrir os trabalhos do Maré de Mudanças com um tsunami ‘invadindo’ Brasília é muito simbólico, significativo, impactante e totalmente conectado com uma das principais estratégias do Movimento Reinventando Futuros: atuar como plataforma para disseminação de conteúdos relevantes e aumentar a visibilidade de iniciativas, soluções e movimentos, usando a nossa rede de forma afetiva e colaborativa”, destaca Liu Berman, diretora do Maré de Mudanças e embaixadora do Movimento Reinventando Futuros.
O Brasil precisa reduzir a produção de plástico
Os 60,5 quilos de plástico da instalação têm como objetivo explicitar a real dimensão da ameaça que os plásticos representam para os oceanos, definida pela Organização das Nações Unidas (ONU) como a segunda maior ameaça ambiental ao planeta e está em disputa política na construção do “Tratado Global Contra a Poluição Plástica”, que busca um acordo eficaz até o final de 2024.
Para alcançar isso, os governos devem priorizar a concordância sobre medidas essenciais que maximizem o impacto na redução da poluição plástica. Uma das ferramentas para isso é o Projeto de Lei (PL) 2524/2022, ou PL do Oceano Sem Plástico – que tramita no Senado Federal, já recebeu aprovação na Comissão de Assuntos Sociais (CAS) e agora segue em análise na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), com relatoria do senador Otto Alencar (PSD-BA).
O país tem a sua parcela de responsabilidade na poluição dos nossos oceanos, contribuindo com 325 milhões de quilos de resíduos plásticos que são todos os anos levados ao mar a partir de fontes terrestres, como disposição em lixões a céu aberto. A ciência estima que hoje há acumulado nas águas 171 trilhões de partículas de plástico que, se reunidas, pesariam cerca de 2,3 milhões de toneladas.
“O Tsunami de Plástico” não apenas chama a atenção para a crise ambiental dos resíduos plásticos, mas também destaca o papel crucial dos catadores de material reciclável na mitigação deste problema, prestando uma indispensável contribuição para o manejo eficiente dos resíduos. Esses profissionais, invisíveis para a sociedade, são os responsáveis por manejar 90% dos materiais que são efetivamente reciclados no país.